Introdução e Contextualização Histórica
A CLAVE DE SUL – Associação Musical de Loulé, fundada em 2021, apresenta-se como uma entidade cultural sem fins lucrativos, profundamente enraizada na rica tradição musical e patrimonial da região algarvia, em particular da cidade de Loulé. O presente Projeto de Interesse Cultural visa estabelecer um programa abrangente e multifacetado que não só honra o legado histórico da música sacra e organística na região, mas também projeta esse património para o futuro, através de iniciativas inovadoras e inclusivas.
A história dos órgãos e organistas em Loulé remonta, pelo menos, a meados do século XVI, conforme documentado no estudo “Contributos para a História dos Órgãos e Organistas ativos em Loulé no Período Moderno” de Marco Sousa Santos. Este estudo revela que já em 1554 havia referências a “uns órgãos que estão no corpo da Igreja” na matriz de São Clemente. Esta presença contínua do órgão na vida litúrgica e cultural de Loulé estendeu-se por séculos, com registos de diversos organistas e intervenções no instrumento ao longo do tempo.
Esses registos documentais dão conta também da presença de uma Harpa que, para além da fruição musical no local onde se encontrava junto do Órgão, serviria para fins litúrgicos e culturais nas povoações em redor, dada a mobilidade do instrumento.
É particularmente notável o facto de, em 1607, os visitadores da Ordem de Santiago terem recomendado a aquisição de “um órgão de seis palmos em alto para ajudar a oficiar os ofícios divinos”, evidenciando a importância atribuída a este instrumento na prática litúrgica e cultural da época. Esta recomendação foi cumprida, e em 1612 já havia registos de pagamentos a um organista, o Padre António Nunes Pereira.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a documentação atesta a continuidade do partido de organista em Loulé, com diversos nomes associados a esta função, incluindo clérigos e leigos. Entre eles, destaca-se Carlos dos Santos, contratado em 1744, que era anteriormente o organista da catedral do Algarve em Faro (História, p. 19), demonstrando o prestígio e a importância atribuídos a este cargo em Loulé.
Esta rica herança histórica serve de inspiração e fundamento para o projeto atual da CLAVE DE SUL. A associação propõe-se não apenas a reviver e a repor esta tradição, mas a expandi-la e adaptá-la às necessidades e expectativas culturais do século XXI, promovendo a música de órgão como um elemento vital da identidade cultural de Loulé e do Algarve.
Missão, Visão e Objetivos da CLAVE DE SUL
A CLAVE DE SUL, conforme estabelecido nos seus estatutos, tem como missão primordial “promover, dinamizar e divulgar atividade cultural e artística, em especial a música de órgão nas suas vertentes de execução, criação e aprendizagem”. Esta missão é complementada por uma visão abrangente que coloca a música, particularmente a música de órgão, como um veículo de inclusão social, expressão universal e comunicação intercultural.
Os objetivos estatutários da associação, incluem:
- Promover o gosto pela Música e a sua fruição, com ênfase na música de órgão e harpa;
- Contribuir para a instalação de Órgãos Sinfónicos Concertantes em espaços adequados;
- Participar em programações e concursos musicais de referência;
- Intervir na avaliação e apreciação de projetos de educação musical;
- Estabelecer relações de cooperação com entidades públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras;
- Iniciar e enraizar o estudo oficial de órgão, numa parceria estabelecida com o Conservatório de Música de Loulé – Francisco Rosado.
Estes objetivos alinham-se perfeitamente com as diretrizes do Ministério da Cultura para projetos de reconhecido interesse cultural, nomeadamente no que diz respeito à promoção da diversidade e qualidade da oferta artística, à valorização da dimensão educativa, ao fomento da coesão territorial e à promoção da inclusão social através da cultura.
Constituída no difícil período de pós-pandemia no regime de “associação na hora”, a CLAVE DE SUL consagrou na prática dois princípios que impôs a si própria desde o início da sua atividade – a inclusão direta ou indireta das unidades escolares, e a igualdade de género na instalação e constituição dos seus corpos sociais.
